EVANGELIZAÇÃO

Brian Anderson (*)

 

Todos nós consideramos as últimas palavras de uma pessoa como muito importantes. Familiares se aglomeram à cabeceira de moribundos para captar suas últimas palavras e relembrá-las depois por anos e anos. Bem, eu afirmo que as palavras derradeiras de Jesus, antes de Ele ascender ao céu, são de fundamental importância.

Ele nos brinda com elas nos quatro evangelhos e no livro de Atos:

Mateus 28:18-20 “Foi-me dada toda a autoridade no céu e na terra. Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a observar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos”.

Marcos 16:15-16 “Ide por todo o mundo, e pregai o evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado”.

Lucas 24:46-49 “Assim está escrito que o Cristo padecesse, e ao terceiro dia ressurgisse dentre os mortos; e que em seu nome se pregasse o arrependimento para remissão dos pecados, a todas as nações, começando por Jerusalém. Vós sois testemunhas destas coisas. E eis que sobre vós envio a promessa de meu Pai; ficai, porém, na cidade, até que do alto sejais revestidos de poder”.

João 20:21 “Paz seja convosco; assim como o Pai me enviou, também eu vos envio a vós”.

Atos 1:8 “Mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém, como em toda a Judéia e Samária, e até os confins da terra”.

Perceba que, em todos os casos, Jesus enfatiza a responsabilidade dos apóstolos na extensão de Seu reino. Eles deveriam fazer discípulos de todas as nações, pregar o evangelho a toda criatura, proclamar o arrependimento dos pecados a todas as nações, serem enviados por Jesus Cristo, assim como Ele foi enviado pelo Pai e testemunharem até os confins da terra. Jesus deu a mesma mensagem básica de cinco diferentes maneiras, de forma a que os apóstolos pudessem não ter dúvidas sobre qual seria seu trabalho depois que Ele se fosse. Ele deixou essas palavras badalando em seus ouvidos. Foi uma coisa que Ele desejou deixar impressa indelevelmente em suas mentes. Era como se Ele estivesse dizendo: “Se vocês esquecerem tudo o que eu lhes disse, vocês não podem se esquecer disso“. Esses textos formam a ordem de batalha da Igreja até a volta de Cristo.

Aqueles de nós que se reúnem em igrejas domiciliares precisam assumir responsabilidade com essas palavras finais de Jesus Cristo. Teoricamente, deveríamos ter vantagem sobre os que se reúnem em lugares mais tradicionais. Desde que, normalmente, não usamos nosso dinheiro para pagar um pastor ou a hipoteca de um edifício, deveríamos ter todos os recursos financeiros necessários para custear o trabalho de evangelização em nossa cidade. Além disso, o modelo de igreja domiciliar é muito mais fácil de reproduzir do que a igreja tradicional. Para criar uma nova igreja domiciliar não precisamos contratar uma pessoa formada num seminário nem edificar um prédio completo, com cruz, janelas com vitrais, púlpito, bancos e órgão. Tudo o que realmente precisamos para uma nova igreja domiciliar é um punhado de pessoas que amem a Jesus Cristo e desejem segui-Lo juntos. Por outro lado, a própria dinâmica de uma igreja domiciliar pode trabalhar contra a determinação de Jesus Cristo de alcançar a outros com Seu evangelho.

Frequentemente, quando alguém chega a uma igreja domiciliar, usufrui intensamente a rica e íntima comunhão com os outros crentes. Isso tende a levá-los a negligenciar outros importantes assuntos, como evangelização, discipulado e criação de novas igrejas. Porém, não devemos deixar que isso aconteça conosco. Nossas igrejas precisam manter, não só uma dinâmica de crescimento interno, mas também de crescimento externo. Elas devem manter também uma dinâmica missionária efetivamente atuante.

Comumente a igreja assume uma mentalidade de fortaleza. Vemos o poder de Satanás e de seus demônios e desejamos proteger-nos dele e da poluição do pecado. Então, recuamos e nos enclausuramos no medo. Contudo, ao invés de nos achar na defensiva, deveríamos nos colocar na ofensiva! Jesus disse que e as portas do inferno não prevalecerão contra Sua igreja (Mateus 16:18). Nessa passagem, a igreja está na ofensiva e o inferno está na defensiva! Eu entendo que Jesus dizia que, se a igreja, corajosa e agressivamente, invadir o reino de Satanás com o evangelho de Jesus Cristo, o demônio não terá capacidade para se opor com sucesso ou sequer revidar com violência. Nós prevaleceremos. Nós temos o poder e a autoridade para invadir o reino das trevas com a verdade do evangelho e o inferno não pode nos deter. Deixe essa verdade, saída do lábio de Cristo, encorajar e incentivar você a novas empreitadas evangelísticas!

Se isso tudo é verdade, como poderá nossa igreja se engajar na tarefa de alcançar aos perdidos e criar novas igrejas? Vamos ver como e onde a igreja primitiva evangelizava, para obter algumas orientações que nos sirvam para a mesma missão.

Onde a igreja primitiva evangelizava?

Frequentemente, as igrejas hoje procuram evangelizar convidando não cristãos para seus cultos. Uma abordagem popular é montar o serviço dominical da igreja dirigido aos não cristãos, oferecendo música, drama e mensagens práticas dirigidas aos não convertidos em áreas como finanças, estresse, trabalho e família. Elas têm a esperança de que os não crentes sejam atraídos a Cristo através desses meios. Após serem convertidos, eles são encorajados a freqüentar estudos bíblicos durante a semana, para que possam crescer na fé. Entretanto, o Novo Testamento preconiza exatamente o contrário. Ao invés de convidar os perdidos para os cultos, no mais das vezes a evangelização no Novo Testamento ocorria durante a semana, quando os crentes tinham contato com os não crentes ou através da pregação da Palavra, pelos trabalhadores apostólicos, em lugares públicos. Os cultos eram destinados à edificação dos crentes e não à conversão dos descrentes (1 Coríntios 14:3, 5, 12,17 e 26). É claro, em certas ocasiões também os não crentes assistiam aos cultos (1 Coríntios 14:24-25). Contudo, os cultos não devem ser estruturados para eles, mas sim para o fortalecimento da igreja. Aparentemente, o modelo bíblico é o de fazer a proclamação de Cristo aos outros, à medida que o Senhor nos proporciona oportunidades de testemunhar. Então, quando alguém professa sua fé em Cristo, é feito convite a ele para que comece a se reunir com os outros crentes nos cultos participativos.

Como a igreja primitiva evangelizava?

A igreja primitiva levava a sério a palavra de Jesus e procurava obedece-la. Ela o fazia de duas diferentes maneiras: falando-se de apóstolos (criadores de novas congregações) e evangelistas, estes procuravam atingir aos perdidos através de pregações públicas, enquanto que os outros membros da igreja procuravam alcançar aos não salvos por meio da interação diária com as pessoas que conheciam.

Trabalhadores apostólicos proclamavam Jesus Cristo em sinagogas, praças de mercados e margens dos rios (Atos 13:5, 17:17, 16:13). O restante da igreja, por seu lado, testemunhava através de seu contato diário e regular com os não crentes. Por esse motivo, Paulo lhes escreveu: “Andai em sabedoria para com os que estão de fora, usando bem cada oportunidade. A vossa palavra seja sempre com graça, temperada com sal, para saberdes como deveis responder a cada um” (Colossenses, 4:5-6). Pedro exortou do mesmo modo: “… antes santificai em vossos corações a Cristo como Senhor; e estai sempre preparados para responder com mansidão e temor a todo aquele que vos pedir a razão da esperança que há em vós” (1 Pedro 3:15). Os membros da igreja primitiva deveriam responder aos de fora e estar sempre prontos a defender suas crenças a todos que perguntassem. Essas passagens parecem indicar que os cristãos primitivos usualmente testemunhavam sobre o poder transformador do evangelho que eles já conheciam (modelo exemplo de estilo de vida), enquanto que os apóstolos (os criadores de novas congregações) empregavam uma abordagem mais agressiva ao proclamar a Jesus Cristo àqueles que ainda não o conheciam.

Quais implicações disso sobre como nossas igrejas domiciliares poderiam atingir aos perdidos? Isso significa que aqueles que, em nossas igrejas, Deus dotou e chamou para trabalhar na evangelização (evangelistas e criadores de novas igrejas) deverão procurar lugares para apresentar o evangelho de Jesus Cristo àqueles que não o conhecem. Talvez eles se engajem em pregações ao ar livre, evangelismo de rua, de porta-a-porta ou de distribuição de folhetos. Ou, poderão surgir oportunidades de falar em muitos eventos e para muitas pessoas. Eu, por ser um bom tocador de banjo, tenho tido muitas oportunidades de pregar o evangelho para grandes audiências seculares, em concertos e festivais.

Por outro lado, outros membros da congregação devem ficar orando e atentos por oportunidades de falar sobre Cristo com as pessoas com as quais interagem, como colegas de classe, vizinhos, colegas de trabalho, parentes, clientes e outros. Precisamos, ainda, procurar freqüentar meios onde possamos interagir com não cristãos. Podemos nos associar a programas ou entidades cívicas ou de vizinhança, para nos encontrar com outras pessoas. Podemos abrir nossos lares nos feriados e convidar nossos vizinhos. Podemos convidar não crentes para almoçar ou jantar em nossa casa. Podemos iniciar um grupo de estudo bíblico investigativo para todos nossos amigos não salvos e que sejam abertos a aprender o que a Bíblia tem a ensinar. Podemos perguntar aos nossos amigos não crentes quais os motivos, em suas vidas, pelos quais podemos orar. Fiquei surpreso ao ver quantos de nossos vizinhos estão realmente solitários e esperando uma amizade verdadeira. Quando Deus oferece a oportunidade de nos tornar amigos de um não salvo, precisamos apenas ser nós mesmos e deixar nossa luz brilhar. São muitas as oportunidades de amar as pessoas e de fazer uma diferença em suas vidas, que poderá ser eterna.

Por outro lado, nossas igrejas podem orar e ofertar generosamente para aqueles a quem Deus capacitou para evangelizar e criar novas congregações. O apóstolo Paulo frequentemente pedia às congregações locais que orassem por ele e por seu trabalho evangelístico e de criação de novas igrejas (Efésios 6:19-20 e Colossenses 4:3-4). No texto citado, Paulo insiste com os irmãos a orarem por ele, para que Deus lhe infundisse intrepidez para proclamar o mistério do evangelho e para que Ele abrisse uma porta para o mundo, pela qual pudesse falar de Cristo. Além disso, Paulo insistentemente recomendou às igrejas a que ofertassem suas finanças para sustentar seu trabalho evangelístico (Filipenses 4:14-19 e 2 Coríntios 8:1-5). Vamos orar e ofertar para aqueles que Deus, hoje, levantou como evangelistas e criadores de novas igrejas.

Dentre as pessoas às quais a igreja testemunhou, haverá algumas a quem Deus preparou para receber a Cristo e serem salvas. Bem, as pessoas que levaram essas almas a Cristo, se possível, devem começar a discipulá-las, investindo nelas seu tempo, encorajando-as, respondendo às suas perguntas sobre como viver para Deus e testemunhando sobre como servir a Cristo. À medida que Deus for salvando as pessoas, elas devem ser acrescentadas às igrejas existentes ou a novas igrejas, a serem criadas. Desde que as igrejas domiciliares têm limitação de tamanho (elas devem caber numa residência), você provavelmente começará a experimentar dificuldades de reunir todos juntos quando o número de pessoas se aproximar de 35 ou 40. A essas alturas, você já deve estar planejando uma nova congregação! Isso pode ser feito dividindo a igreja existente em duas ou juntando os novos crentes e inaugurando uma nova igreja, deixando a igreja inicial intacta. Eu, pessoalmente, prefiro o segundo modelo. Quando as pessoas começam a formar uma estreita comunhão numa igreja, uma divisão pode ser traumática. Talvez seja bem menos danoso tomarmos alguns novos membros e um irmão com o dom de criação de novas igrejas e ajudá-los a começar reuniões em um novo local. O irmão mais qualificado pode começar a ensinar a esses novos crentes como fazer funcionar uma igreja domiciliar e como alcançar um saudável círculo social com o evangelho de Cristo. Com o tempo, Deus levantará dentre esses novos convertidos irmãos maduros que servirão como anciãos para pastorear o rebanho. Assim, o criador de novas igrejas estará liberado para se devotar á criação de uma nova igreja e o processo recomeçará sempre.

Meu Deus, dinamize aqueles de nós envolvidos com as igrejas domiciliares para que trabalhem para atender à Grande Comissão, para que Jesus possa ser glorificado e Seu reino se estenda por todo o mundo!

26/10/06 (Data do original)

Alguns crentes são sobrenaturalmente dotados em evangelização ou em criação de novas igrejas. A existência e o ministério deles é um padrão do Novo Testamento, especialmente em áreas pioneiras. Entretanto, isso não quer dizer que cada nova igreja deva ser iniciada por um deles, para ser uma igreja do Novo Testamento. Ainda que seu ministério seja uma grande ajuda na criação de uma nova igreja, não é absolutamente necessário, particularmente em áreas onde o evangelho já tenha sido pregado e a igreja firmemente estabelecida. – O editor (do livro Ekklesia, em inglês, do qual este artigo é parte).

Tradução de Otto Amaral

Se você fala português e deseja algum esclarecimento sobre a igreja apostólica ou sobre o artigo acima ou quer fazer algum comentário sobre o mesmo, entre em contato com Otto Amaral no Brasil, pelo e-mail: ottoamaral@uol.com.br

(*) Brian Anderson – Brian e sua esposa Debbie vivem em Sonora, Califórnia e têm dois filhos adolescentes. Brian foi pastor de tempo integral de uma igreja evangélica antes de começar a participar das igrejas domiciliares. Ele agora exerce o ministério de criador de novas igrejas e tira sua remuneração de outra atividade de trabalho. Ele é também um exímio músico, sendo tocador de banjo num conjunto de raiz e ainda consegue oportunidades através das quais proclama o evangelho. Brian tem vários de seus ensinamentos colocados no site www.solidrock.net.