DIVINE ORDER
Divine Order – 05-31-05
Mike Indest e
Steve Atkerson
Parte 1
Mike Indest
Um panorama da ordem divina na igreja
Todos nós odiamos confusão. Pergunte a qualquer pai se ele concorda com desordem ou se ele promove o caos em seu lar. Pergunte a um bibliotecário se a melhor maneira de gerenciar uma biblioteca é simplesmente atirar todos os livros num depósito e depois procurar em toda a pilha cada vez que precisar encontrar um livro. Como seriam nossos cultos se todos falassem ao mesmo tempo e se houvessem três aulas acontecendo simultaneamente? Como ficariam nossas estradas sem sinais de trânsito, placas e sem normas estabelecendo que todos devessem dirigir do lado direito da pista e que devessem respeitar os limites de velocidade e coisas assim? O mundo em que vivemos não funcionaria sem ordem. Porem, qual ordem… dos homens ou de Deus?
Esta é questão que enfrentamos em cada decisão que tomamos, assim que permitimos que o Espírito Santo cresça em nós. Todos conhecemos o que as Escrituras ensinam sobre negarmos-nos e colocarmos o próximo sempre acima de nós mesmos. Relembramos com alegria que fomos criados à imagem do Filho de Deus, Jesus Cristo. Contudo, ainda tentamos reger nossas vidas de acordo com a sabedoria humana vigente.
T. Austin-Sparks esclarecidamente observou: ”A todos os que têm um razoável conhecimento da Bíblia é evidente que todas as Escrituras estabelecem os quatro pontos seguintes?
- Deus é um Deus de ordem;
- Satã é o príncipe de um mundo sob julgamento divino e a natureza desse julgamento é confusão;
- Cristo, em pessoa e ações, é a encarnação da ordem divina;
- A igreja é o vaso eleito no qual, e através do qual, essa ordem divina se manifesta e é administrada até o fim dos tempos”.
Existe um padrão definido de ordem divina em tudo o que Deus faz. Começando pelo passado remoto, podemos discernir a ordem na Trindade. Quando o Senhor criou o mundo e Suas instituições, podemos observar essa ordem divina sendo repetida na família, no governo e na igreja.
Por exemplo, o Espírito Santo declara que ? “Quero, entretanto, que saibais ser Cristo o cabeça de todo homem; o homem, o cabeça da mulher e Deus o cabeça de Cristo.“ (1 Coríntios 11:3) e que ”Deus não é de confusão e sim de paz. Como em todas as igrejas dos santos…” (1 Coríntios 14:33).
A trindade
Consideremos a trindade e, em particular, a relação entre o Pai e o Filho. O pai e o Filho são iguais em atributos e em essência. Uma rápida vista aos nomes de Cristo (Deus, Filho de Deus, Senhor, Rei dos Reis e Senhor dos Senhores), aos Seus atributos (onipotente, onisciente, onipresente, imutável, vida e verdade) e às suas ações (criar, sustentar, perdoar pecados, vencer a morte, julgar, enviar o Espírito Santo) – tudo nos convence que Jesus é Deus. Temos ainda as declarações pessoais de Jesus em João 10:30, 14:9, 17:21 e Mateus 28:19 a nos convencerem também da divindade do Nosso Salvador. Porém, é possível ser igual e ao mesmo tempo submisso? O que quer dizer 1 Coríntios 11:3 quando declara que ”Deus é o cabeça de Cristo”? Aqui está a ordem divina em sua mais pura forma e prática. Ainda que inteiramente Deus, Jesus, ”… subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz” (Filipenses 2:6-8).
Atente para a confissão de Cristo explanado sua submissão ao Seu Pai:
João 6:38 – ”Porque eu desci do céu, não para fazer a minha própria vontade, e sim a vontade Daquele que me enviou”.
João 4:34 – ”Porque a minha comida consiste em fazer a vontade Daquele que me enviou e realizar a Sua obra”.
João 5:30 – ”Eu nada posso fazer de mim mesmo; na forma por que ouço, julgo. O meu juízo é justo porque não procuro a minha própria vontade, e sim a Daquele que me enviou”.
Mateus 6:10 – ”Venha o Teu reino, faça-se a Tua vontade, assim na terra como no céu.”
Mateus 26:39 – ”Meu Pai, se possível, passe de mim este cálice! Todavia, não seja como eu quero, e sim como Tu queres.”
Igual, porém submisso! Assim é que a ordem divina funciona na Trindade. Esta é a ordem divina que vemos impressa em toda a criação. A família, o governo e a igreja, todos têm instruções explícitas sobre suas funções e práticas. Todas essas instruções estão fundamentadas na já demonstrada ordem que existe nas ações da Trindade. Elas não são ordens arbitrárias de um Deus caprichoso nem são limitadas pela cultura ou pelos tempos. Deus criou a família, o governo e a igreja para serem parecidos e para funcionarem como a Trindade e para se alegrarem com as bênçãos da ordem divina em tudo que fizermos.
A família
Na ordem da criação, o seguinte é a família. Não existe nenhuma outra instituição na Terra que se pareça mais com a Trindade, em suas ordem e função. Não se engane – todas as comparações entre o pacto de casamento e o pacto divino de salvação encontradas em Efésios e Colossenses são repercussões de Seu amor e de Seu desejo de repartir esse amor conosco. Porém, devemos estruturar nossos casamentos de acordo com os planos Dele, não os nossos. Da mesma forma que a Trindade opera segundo a ordem divina, o Senhor espera que vivamos nossos casamentos da mesma forma.
Um marido e uma esposa são iguais em atributos e em essência. Gálatas 3:28 revela que ”Dessarte, não pode haver judeu nem grego, nem escravo nem liberto, nem homem nem mulher, porque todos vós sois um em Cristo Jesus”. Como o Pai e o Filho, marido e mulher são iguais em atributos e em essência. Mas, para que a família funcione de acordo com a Bíblia, Deus, clara e inequivocamente, instituiu um plano divino. O marido é indiscutivelmente o cabeça da esposa: ”Quero, entretanto, que saibais ser Cristo o cabeça de todo homem, e o homem, o cabeça da mulher,…” (1 Coríntios 11:3). Como o cabeça, a ele é determinado que ame sua esposa exatamente com Cristo amou a igreja a ponto de se dar por ela. Ele deve amá-la como ama ao seu próprio corpo, deve mantê-la e cuidar dela. A esposa deve submeter-se ao seu esposo em tudo (exatamente como na Trindade: igual, porém submissa). E as crianças, devem obedecer. Colocado simplesmente, o plano divino para a família é: maridos amam, esposas se submetem e crianças obedecem.
Perceba o quanto se assemelha à ordem existente entre o Pai e o Filho. Desde que somos predestinados a sermos conformados à imagem do Filho, perceba como a ordem divina trabalha no nosso benefício e quanto os planos divinos são melhores do que os planos dos homens. Olhe à sua volta e veja o caos e a confusão existente nas famílias que escolhem adotar como norma a visão dos homens e não a de Deus. Muitas das pessoas que adotam esse procedimento argumentam, sob uma ótica cultural, que essas diretivas estão ultrapassadas ou que sua validade abrangia apenas a época em que foram escritas e que agora vivemos em um tempo e numa cultura mais esclarecidos. Quanta superficialidade! O plano de Deus para a família nada mais é do que o mesmo plano do qual Ele e Seu Filho desfrutaram por toda a eternidade – e ele funciona!
Perceba a ordenação na ordem divina. O Filho se submete ao Pai. Os homens se submetem ao Filho. As esposas se submetem aos maridos. Os filhos se submetem aos pais. Nada por compulsão, mas por vontade própria, humildade e com a alegria com que andamos nos planos que Deus fez para nos.
Governo
O seguinte, na ordem da criação, no tempo, é o governo. As principais passagens bíblicas instituindo a ordem divina no governo são: Romanos 13:1, Tito: 1 e Pedro 2:14. Nelas, três princípios podem ser observados:
Princípio 1 – ”… porque não há autoridade que não proceda de Deus e as autoridades que existem foram por Ele instituídas” (Romanos 13:1).
Princípio 2 – ”Todo homem esteja sujeito às autoridades superiores…” (Romanos 13:1).
Princípio 3 – ”De modo que aquele que se opõe às autoridades resiste à ordenação de Deus e os que resistem trarão sobre si mesmos condenação” (Romanos 13:2).
Submeter-se a Deus exige fé; a esposa submeter-se ao esposo exige fé; submeter-se às autoridades governamentais exige fé. Muitas vezes esquecemos que essa história é ”Sua história” e que o Senhor exercita Sua vontade todo o tempo. Pedro, em Pedro 2:13, exortou: “Sujeitai-vos a toda instituições humanas por causa do Senhor, quer seja rei, como soberano, quer às autoridades, como enviadas por Ele, tanto para o castigo dos malfeitores como para louvor dos que praticam o bem”.
Porque assim é a vontade de Deus, que, pela prática do bem, façais emudecer a ignorância dos insensatos.”
No sentido do aumento da fé, devemos nos lembrar que o Senhor:
- ”Dissolve a autoridade dos reis e uma corda lhes cinge os lombos” (Jó 12:18).
- ”Deus é o juiz; a um abate, a outra exalta” (Salmos 75:7).
- ”É Ele quem muda o tempo e as estações, remove reis e estabelece reis; Ele dá sabedoria aos sábios e entendimento aos inteligentes” (Daniel 2:21).
- ”…o Altíssimo tem domínio sobre o reino dos homens; e o dá a quem quer e até ao mais humilde dos homens constitui sobre eles” (Daniel 4:17 e 32).
Governos são ministros ou servidores de Deus. O Senhor estabeleceu autoridades governamentais para serem ministros da ira, para punirem os que cometem injustiças. Nossa submissão inclui a obediência às leis (Tito 3:1) e a manutenção dessas leis através do pagamento dos impostos (Romanos 13:7). É esse o mesmo padrão na Trindade e na família… É a ordem divina!
A igreja
A Palavra está repleta de determinações referentes aos nossos ajuntamentos para louvar em conjunto. É dada ênfase à demonstração pública da ordem divina, ao nos juntarmos para celebrar a Ceia do Senhor, ao orarmos, ao exortarmos, ao cantarmos e ao nos alegrarmos na comunhão. Porém, o que as nossas assembléias refletem: a ordem divina ou o que o homem pode fazer de melhor?
Quem é o cabeça da igreja? Paulo escreveu: ”Ele é a cabeça do corpo, da Igreja. Ele é o primogênito de entre os mortos, para em todas as cousas ter primazia (1 Colossenses 1:18)”; ”E pôs todas as coisas debaixo dos pés e, para ser o cabeça sobre todas as cousas, o deu à igreja.” (Efésios 1:22); ”Mas, seguindo a verdade, em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo…” (Efésios 4:15) e ”Quero, entretanto, que saibais ser Cristo o cabeça de todo homem, e o homem, o cabeça da mulher, e Deus, o cabeça de Cristo” (1 Coríntios 11:3). Não um pastor ou ancião, não uma denominação nem um superintendente, não um bispo ou apóstolo, mas somente Cristo é o cabeça de Sua igreja.
Da mesma forma com que Jesus submeteu-se ao Seu Pai, da mesma forma com que a esposa deve submeter-se ao esposo; da mesma forma com que devem os filhos se submeter aos seus pais; da mesma forma com que devemos nos submeter às autoridades governamentais, assim a igreja deve submeter-se a Deus em todas as coisas. A expressão pública do nosso louvor deve ser um exemplo dessa submissão em tudo que fazemos.
Como os anciãos influem nessa equação? Supõe-se que eles sejam exemplos da ordem divina em ação. Atente para as qualificações e para as descrições de suas tarefas. A primeira carta a Timóteo, em 3:17 e Tito 1:7-9 descreve esses homens como sendo o cabeça de suas casas, que as mantinham em ordem (divina), cujas esposas e filhos atendiam a essa ordem. Pedro, em 1 Pedro 5:15 determina que esses anciãos devem liderar pelo exemplo, não por compulsão, demonstrando liderança pelo seu fiel exemplo de submissão, assim como o igualmente fiel exemplo de submissão de suas famílias. Eles não devem dominar, mas, seguindo o exemplo de Jesus, devem viver exemplares vidas de submissão.
Todas as determinações de 1 Coríntios são no sentido de expressar a ordem divina publicamente. Não fique bêbado, não coma toda a comida antes dos outros chegarem, cubra a cabeça, mulheres estejam em silêncio, haja liderança masculina, as instruções referentes aos dons e, mais importante, as instruções concernentes à Ceia do Senhor, são todas determinações com o propósito de expressar a ordem divina. Como todas as determinações do Senhor, elas não estão sujeitas a considerações culturais nem temporais, mas são a permanente expressão de Sua própria submissão.
Igual, porém submisso
O Pai, o Filho e o Espírito Santo vivem em perfeita harmonia por todo o tempo. Nós fomos criados para comungarmos com o Pai. O pecado rompeu essa comunhão e, ao contrário de ser perfeito, nosso mundo foi cheio de caos e de morte. Em submissão ao Seu Pai, o Filho morreu para que pudéssemos voltar a ter comunhão com o Pai. Nós fomos predestinados a ser conformados à Sua imagem. Como resultado, o Pai criou a família para funcionar exatamente como a trindade. Um cabeça, o marido. Deus então criou as autoridades governamentais e nos chamou à submissão a elas. No Dia de Pentecostes, Sua igreja nasceu. A igreja deve funcionar como a família e como a trindade. Eis a ordem divina: na trindade, na família no governo e na igreja.
Parte 2
Steve Atkerson
Um exemplo da ordem divina na igreja
Corretamente aplicada, a passagem 1 Coríntios 14:33-35 é um desafio, especialmente para os envolvidos com igrejas domiciliares que mantém cultos interativos. O texto diz: ”… Como em todas as igrejas dos santos, conservem-se as mulheres caladas nas igrejas, porque não lhes é permitido falar; mas estejam submissas como também a lei o determina” (1 Coríntios 13:33-35).
Desde que esta passagem deve ser aplicada toda semana, isso é algo que precisa ser tratado com seriedade e honestidade. Antes de tentar explicar o que essa citação pode representar, algumas considerações gerais e preliminares sobre o texto precisam ser feitas.
Primeiro, a citação foi endereçada a todas as congregações, em todos os lugares. Especificamente com respeito ao silêncio das mulheres, Paulo faz um apelo em 1 Coríntios 14:33 a uma condição que já era verdade em ”todas as igrejas dos santos”. Isso sugere que, aquilo que Paulo desejava das mulheres, era uma prática universal. Além do mais, ele estabeleceu que as mulheres deveriam manter-se caladas nas ”igrejas” (1 Coríntios 14:34). Desde que a Bíblia geralmente fala filosoficamente como se houvesse apenas uma igreja por cidade, o uso da palavra ”igrejas” (no plural) demonstra que a referência se aplica a todas as cidades-igreja existentes na época.
Segundo, essa passagem não é simplesmente uma opinião não inspirada de Paulo. Talvez se antecipando às oposições a essa instrução sobre o papel da mulher na fase interativa das assembléias da igreja, Paulo definiu bem o alvo de sua determinação com o lembrete: ”Se alguém se considera profeta ou espiritual, reconheça ser mandamento do Senhor o que vos escrevo” (1 Coríntios 14:37). Então, ele adverte: ”E se alguém o ignorar, será ignorado” (1 Coríntios 14:38). Então, represente o que representar essa passagem, ela não é meramente a opinião de Paulo. Ela é determinação do Senhor. Não podemos ignorá-la.
Terceiro, a palavra silêncio vem do grego sigao e significa a ausência de qualquer ruído, seja feito pela fala ou por qualquer outro meio. É muito significativo que a palavra sigao é usada em outros lugares, em Coríntios 14. Os que falam em línguas são instruídos a ficarem em silêncio (sigao, 14:28) se não houver intérprete presente e os profetas devem se calar (sigao, 14:30) se alguma revelação for recebida por alguma outra pessoa. Nenhuma instrução foi dada aos que falavam línguas ou aos que profetizavam sob certas circunstâncias. Então, seja qual for a aplicação correta para as mulheres, existem ocasiões quando uma irmã não deve se dirigir à igreja reunida. O centro da determinação é que as mulheres mantenham silêncio (14:34) durante os cultos interativos.
Quarto, o contexto que permeia essa passagem se refere à fase interativa do culto semanal do Dia do Senhor (1 Coríntios 14:40). A razão principal da reunião da igreja se reunir semanalmente era promover sua edificação (1 Coríntios 14:4-5, 12, 26 e Hebreus 10:24-25) O método básico para atingir essa edificação é através da comunhão na Ceia do Senhor como uma refeição completa (veja 1 Coríntios 11). Como em qualquer grande jantar, existem momentos quando várias conversas acontecem simultaneamente e quando nenhuma pessoa é deixada isolada. Tanto homens quanto mulheres conversam livremente, relaxando-se e aproveitando a oportunidade ao mesmo tempo, ao redor da refeição comum. Na igreja primitiva, quando o banquete de comunhão finalmente se aproximava do final, a segunda fase da reunião começava. Essa segunda etapa é descrita em 1 Coríntios 14. Este é o tempo para ensinar, cantar, testemunhar, etc. A regra mais importante dessa parte era que apenas uma pessoa, de cada vez, deveria se dirigir à congregação. Todas as outras deveriam ouvir em silêncio. As pessoas deveriam falar ”sucessivamente” (14:27) e ”todos” poderiam usar da palavra (14:31). Então, seja o que for que essa passagem sobre o silêncio represente, ela se refere ao silêncio com respeito a uma pessoa falar publicamente à assembléia. Logicamente, ela pode então não se referir ao canto congregacional, às respostas coletivas ou conversas em voz baixa. Com certeza, também não se aplica ao congraçamento durante a Ceia do Senhor (1 Coríntios 1:17-35).
Quinto, a exigência para que a mulher permaneça em silêncio quanto ao falar publicamente à assembléia reunida, não é uma questão de capacidade, unção nem de espiritualidade. Antes, é uma matéria de ordem divina, obediência e de colocar o próximo como mais importante, tudo para avanço do Reino. Por exemplo, um irmão que vai ao culto preparado para falar em línguas e deixa de usar seu dom pelo fato da inexistência de um intérprete presente. Um profeta pode ter uma palavra inflamada, se for genuinamente do Senhor, mas se outra revelação surgir por outra pessoa, o primeiro irmão deve interromper a explanação que fazia. Similarmente, as irmãs cristãs são chamadas a manter silêncio em certas e limitadas ocasiões.
Duas visões
Entre os autores deste livro (N. do T.: a referência é ao livro Ekklesia, do qual este artigo é parte) prevalecem duas diferentes visões sobre o exato significado das palavras dessa passagem. Uma, sustenta que as mulheres podem certamente se dirigir à assembléia, exceto para, verbalmente, julgar alguma profecia que tenha sido trazida. A outra visão entende que a Bíblia ensina que não existe qualquer oportunidade na qual as mulheres possam se dirigir à assembléia de 1 Coríntios 14.
Embora a segunda visão seja a mais comumente sustentada, a primeira (que proíbe a manifestação feminina apenas quanto ao julgamento de profecias) vem se tornando bastante popular entre as igrejas de hoje. No que os autores deste livro concordam é que Deus criou o homem e a mulher com divinas diferenças de projeto. Cada gênero foi especificamente capacitado para cada ministério e chamado do Senhor. Nós comungamos com a certeza de que Deus determinou papéis específicos tanto para os homens quanto para as mulheres.
A visão do silêncio nos julgamentos
Dentre aqueles que adotam a visão do silêncio feminino apenas nos julgamentos, a determinação de 1 Coríntios 14:33-35 (“conservem-se as mulheres caladas nas igrejas”) aplica-se ao julgamento das várias profecias mencionadas em 14:29-33. Em 14:29, Paulo explicitou que dois ou três profetas podem falar. Em 14:30-33 ele regulamentou a profecia. Então, em 14:29, Paulo ordenou que as profecias fossem cuidadosamente julgadas. Em seguida ele regulamentou o julgamento – em 14:30-35. Depois, apenas os que falavam em línguas deveriam se calar, em certas circunstâncias (14:28 – apenas com respeito ao falar em línguas quando não existir intérprete presente). Em seguida, em 14:30, a atenção é voltada para os profetas, apenas quando estes estiverem falando e outro profeta receber uma revelação. Assim, as mulheres devem manter silêncio sob certas circunstâncias (14:33-35, isto é, apenas no que tange ao julgamento de profecias). As mulheres, para julgar profecias na igreja, precisam assumir uma postura autoritária e, portanto, devem violar a exigência de estar em submissão encontrada em outra parte das Escrituras (1 Timóteo 2:11-13). Perceba como Paulo liga o silêncio das mulheres nesta passagem à submissão (1 Coríntios 14:34), indicando que esse silêncio é uma questão de exercício de autoridade. Dessa forma, as mulheres não estão autorizadas a questionar, perguntar ou interrogar os profetas em sua ortodoxia. Para fazer isso, elas deveriam estar em posição de autoridade sobre os profetas. Em vez disso, elas devem fazer suas perguntas aos seus maridos em casa, depois do culto (14:35).
Além do mais, aqueles que sustentam a visão do silêncio feminino quanto aos julgamentos, concernente a 1 Coríntios 11:2-15 (sobre a mulher profetizando), entendem que o descrito nessa passagem teria ocorrido num culto interativo da igreja. Isso se deve ao fato de que as instruções que imediatamente se seguem a essa passagem, 11:17-34 (referente à Ceia do Senhor), diz respeito claramente a uma assembléia interativa da igreja. Então, em 1 Coríntios 11:2, os coríntios são elogiados pelo que fizeram de correto nos cultos, mas em 11:7 são repreendidos pelo que fizeram de errado em suas reuniões. A aparente contradição que se cria entre 1 Coríntios 11:2-16 (mulheres orando e profetizando) e 1 Coríntios 14:33-35 (mulheres em silêncio) é resolvida quando se entende que o silêncio em 1 Coríntios 14:33-35 é condicional. As mulheres podem falar se suas declarações estiverem “em submissão” (14:34). Se, entretanto, suas declarações contiverem algum tipo de julgamento sobre as profecias apresentadas na reunião, então sob esta condição, a mulher deverá silenciar. Assim, as irmãs deveriam estar em silêncio apenas ocasionalmente, não sempre.
A visão do silêncio quanto ao falar em público
A visão que defende o silêncio feminino é apoiada pela aparentemente absoluta determinação contida em 1 Coríntios 14:33-35. A determinação parece cristalina. E, como já colocamos antes, a palavra grega usada no texto (sigao) verdadeiramente significa mudo. Isso contrasta com outra palavra que Paulo poderia ter usado (hesuchia) que usualmente significa calado, no sentido de tranqüilo, calmo ou sentado, mas não necessariamente mudo (veja esse uso em 2 Tessalonicenses 3:12 e em 1 Timóteo 2:2 e 2:11-12). Além disso, como que antecipando que alguém pudesse não entender o significado de “conservem-se as mulheres caladas nas igrejas”, Paulo acrescentou o esclarecimento de que às mulheres ”não lhes é permitido falar” (14:34). Ele não limitou a determinação especificando que elas não poderiam falar em línguas, nem apresentar uma profecia, nem falar julgando uma profecia ou ainda ensinando algo. Nenhuma qualificação foi acrescentada. Evidentemente, as mulheres não devem falar qualquer coisa publicamente à assembléia reunida. De fato, elas não devem sequer fazer qualquer pergunta na igreja (14:35), pois ”para a mulher é vergonhoso falar na igreja”.
A autor Gordon Fee, na sua obra New International Commentary on the New Testament: The First Epistle to The Corinthians, observa que ”Apesar dos protestos contra, a ‘regra’ é expressa com absolutamente clareza. Tanto que ela é oferecida sem qualquer forma de qualificação. Dada a natureza não qualificada da própria proibição de que à ‘mulher’ não é permitido falar, é muito difícil interpretar isso como representando qualquer outra coisa que não todas as formas de falar em público. O sentido da sentença é o de uma absoluta proibição de falar nas assembléias” (Grands Rapids: Eerdmans Publishing, págs. 706-707).
De acordo com o The Expositor’s Bible Commentary, “… como em todas as igrejas dos santos, conservem-se as mulheres caladas (14:33-36)… A determinação parece conclusiva: as mulheres não devem falar publicamente na igreja” (Vol. 10, págs. 275-276). Além do mais, B.B. Warfield escreveu que “precisamente o que o apóstolo está fazendo é proibir que as mulheres falem na igreja… seria impossível a ele falar mais direta ou enfaticamente do que o fez. Ele requer que as mulheres estejam em silêncio nas reuniões da igreja; isso, porque ‘na igreja’ quer dizer nas assembléias, pois não existiam prédios construídos para abrigar igrejas“ (“Women Speacking in the Church“ in The Presbyterian, 30 de outubro de 1919, págs. 8 e 9).
O teólogo da igreja Southern Baptist, John Broadus, comentando 1 Coríntios 14:33-34 e 1 Timóteo 2:11-15, declarou: “Então, agora nem é preciso insistir que essas duas passagens do apóstolo Paulo definitiva e fortemente proíbem que as mulheres possam falar em reuniões públicas mistas. Ninguém pode questionar que elas são a mais óbvia expressão das determinações dos apóstolos“ (Should Women Speak In Mixed Public Assemblies? Panfleto publicado por Baptist Book Concern, Louisville, 1880).
Um exame das normas culturais do primeiro século poderá sugerir também que Paulo realmente pretendeu que as mulheres estivessem em silêncio nas reuniões. Nas sinagogas judaicas às mulheres não era permitido falar publicamente. Plutarco, o grande historiador grego escreveu que a voz das mulheres modestas deveria ser sustentada pelo público e que elas provavelmente sentiam mais vergonha de se fazerem ouvir do que de ficarem nuas em público. (Reinecker, Linguistic Key, pág. 438). Os comentários de Plutarco parecem refletir o sentimento comum greco-romano da época. Se Paulo pretendia que às mulheres fosse permitido falar em público, então porque teria escrito tão extensamente para convencer seus leitores sobre uma prática contra-cultural? Porém, essa resposta não pode ser encontrada no Novo Testamento. Em vez disso, existe a determinação do silêncio, uma orientação não baseada na cultura dos dias de Paulo, mas na prática universal de todas as igrejas, inclusive sob as antigas Escrituras (“como também a lei o determina“, 14:34). Paulo ressalta a igualdade dos sexos em Gálatas 3:28 (em contraste com a cultura do primeiro século), mas ele ainda mantém a subordinação das esposas aos seus maridos (1 Coríntios 11, 14:34, Efésios 5:22) e que a liderança na igreja deve ser masculina (1 Timóteo 2:11-13 1 Timóteo 3 e Tito 1).
Qual é o propósito da mulher ficar em silêncio durante os cultos interativos de 1 Coríntios 14? De acordo com o texto, seu silêncio é uma forma de submissão: “… porque não lhes é permitido falar, mas estejam submissas como também a lei o determina“. As leis do Velho Testamento obviamente não tratam do silêncio da mulher nas assembléias das igrejas, porém ensinam a submissão das mulheres aos seus maridos e desenham os modelos de liderança masculina tanto na sociedade quanto na religião. Numa situação na qual toda a igreja esteja reunida em um local, para ser edificada através do ensino, oração, louvor, testemunhos, etc., os homens são chamados a serem principalmente os servos-líderes. As mulheres devem praticar um dinâmico silêncio que encoraje aos homens a falar e a praticar suas lideranças.
A visão da proibição do falar em público harmoniza as determinações sobre as mulheres profetizarem, em 1 Coríntios 11, com 1 Coríntios 14, notando-se que em nenhum lugar o texto especificamente esclarece que as profecias de 1 Coríntios 11 tinham como alvo as reuniões da igreja. As orações e profecias de 1 Coríntios 11 são então entendidas como tendo ocorrido em outra oportunidade que não uma assembléia da igreja. A presença da palavra igrejas (11:16) é tomada como não se referindo a uma assembléia de igreja, porém à totalidade dos cristãos vivendo em várias localizações geográficas.
Mas, o que representa claramente a determinação de 1 Coríntios 14:26, de que todos podem falar nas reuniões ou que todos podem profetizar? Em muitos contextos, a palavra “irmãos” se refere aos homens e às mulheres. Em outras ocasiões, a mesma palavra designa apenas aos homens crentes (como em 1 Coríntios 7:29 e 9:5). Alguns argumentam que toda a carta aos Coríntios se refere tanto a homens quanto a mulheres. Nesse caso, isso seria verdade também em 1 Coríntios 14? Navegando no capítulo 14, começando no capítulo 1, o fluxo poderia demonstrar que sim. Os leitores, em 1 Coríntios 14, são chamados de “irmãos” (sem referência a sexos) ou “você” Entretanto, existe uma significativa e inesperada mudança de pessoa, de “você” para “elas”, no parágrafo concernente às mulheres (14:33-35). Deixando de escrever “mulheres… vocês”, o texto declara ”mulheres… elas”. Porque Paulo não escreveu diretamente às irmãs, se elas estivessem incluídas no termos “irmãos”?
Essa mudança de pessoa pode ser facilmente justificada se a palavra “irmãos” em 1 Coríntios 14 realmente se referir aos homens. As mulheres seriam mencionadas na terceira pessoa, desde se estaria escrevendo sobre elas e não diretamente a elas. Então, quando é explicitado que todos, qualquer um ou cada um dos irmãos podem participar no culto interativo (14:26), é especificamente ao homem que a passagem se refere. A mulher (“ela”) não deve fazer comentários a ser ouvidos por toda a igreja. Desde que Paulo não hesitou em dirigir-se diretamente às mulheres em outras de suas cartas (por exemplo, Evódia e Síntique em Filipenses 4:2), o fato de não o ter feito aqui, em 1 Coríntios 14, faz o caso acima mais esclarecedor. Gordon Fee, ao comentar essa passagem, observa: “todas as orientações prévias dadas pelo apóstolo, inclusive o ‘um‘, o ‘outro’, o ‘aquele’ e o ‘ainda outro’ do verso 26 e o ‘todos’ do verso 31, são todas para serem entendidas como não incluindo as mulheres“ (página 706).
Conclusão
O silêncio das mulheres é ao mesmo tempo uma lição e uma aplicação da ordem que deve existir no lar e na igreja. Ele encoraja ao homem a tomar a liderança no culto, a assumir a responsabilidade pelo que acontecer, a participar verbalmente, a começar a articular seus pensamentos, a aprender a ser líder, etc. Uma esposa observou orgulhosamente que, quanto mais ela se mantém silenciosa nas reuniões interativas da igreja, mais seu passivo esposo se expressa e toma a liderança (conforme 1 Pedro 3:1-2).
Muitas vezes, aqueles que explicam aquelas passagens das Escrituras que parecem limitar as tarefas das mulheres no ministério, falham ao ver o quadro completo da ordem da família de Deus, estabelecida na criação, que abrange tanto o Velho quanto o Novo Testamento. A igreja é formada principalmente por famílias. Se a ordem da igreja contradisser a ordem da família (Efésios 5:22-33) haverá desordem e caos. O Senhor criou e dotou homens e mulheres com papéis complementares no ministério. O verdadeiro entendimento da ordem de Deus na família e na igreja nos leva a perceber que essas passagens são mais protetoras do que restritivas. Elas protegem a mulher da carga da liderança e de ter que atuar como homem. Elas também encorajam aos homens a ser servos-líderes. E, ainda, elas nos apresentam uma imagem de Cristo e sua Noiva, a igreja, que é submissa a Cristo como sua cabeça.
Esta é uma matéria séria com conseqüências profundas, independente de como ela é aplicada. Todos precisamos fazer alguma coisa sobre essas passagens pelo menos semanalmente. Meu propósito ao escrever este artigo foi oferecer uma alternativa bíblica às interpretações mais comuns que prevalecem hoje e não atacar aos que pensam de forma diferente. Aos leitores que ainda não decidiram como aplicar 1 Coríntios 14:33-35, tomo a liberdade de recomendar que não enterrem a cabeça na areia e finjam que a decisão não é necessária. Como Paulo advertiu: “E, se alguém o ignorar, será ignorado” (1 Coríntios 14:38).
31/05/2005 (Data do original)
Tradução de Otto Amaral
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