A Igreja Da Cidade
The City Church – 05-25-07
Steve Atkerson
A palavra igreja (ekklesia) é empregada de várias maneiras no Novo Testamento. A maioria dos usos se insere em duas categorias: uma, é a que os teólogos chamaram de igreja católica (universal); a outra, é a igreja local. A igreja universal é constituída por todos os crentes, de todos os tempos, de todo o mundo. A igreja local é formada pelos crentes vivos de um local específico. Alguns ensinam que a expressão mais adequada para designar a igreja local é algo como igreja da cidade. O que vem a ser igreja da cidade? Para responder a isso, precisamos primeiro entender a igreja universal (ou católica).
I – UMA IGREJA CATÓLICA
1. A igreja universal é uma realidade bíblica. Existem referências e determinações nas Escrituras que não se referem a nenhuma igreja local em particular, mas ao número total dos integrantes do povo de Deus, de todos os tempos, em todos os lugares (no céu ou ainda na Terra). E todos pertencem a Jesus. Por exemplo, Ele disse em Mateus 16:18: “Sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela”. É notório que muitas igrejas locais deixaram de existir. Essa promessa de perpetuidade da igreja não foi feita para nenhuma igreja local específica, mas à igreja como um todo.
A realidade da igreja universal é também refletida em Romanos 12:5: “Somos um só corpo em Cristo”. Além do mais, Efésios 1:22 diz que Deus, o Pai, “para ser cabeça sobre todas as coisas O deu (deu a Cristo) à igreja”. Colossenses 1:18 reforça essa idéia, ao declarar que “Ele é a cabeça do corpo, da igreja”. Cristo é a cabeça e a igreja universal é Seu corpo. Então, não há mais do que uma igreja universal, um corpo em Cristo. (Em razão dos abusos passados do conceito de igreja universal, alguns preferem se referir a esses exemplos como usos genéricos da palavra igreja).
2. A igreja universal consiste na totalidade de todos os crentes. Estes são aqueles cujos nomes estão escritos no Livro da Vida do Cordeiro (Hebreus 12:22-23). A morte separa os santos de baixo dos santos de cima mas, ainda assim, nós somos um grupo, uma igreja.
3. A igreja universal jamais realizou sequer uma reunião plenária. Muitos de seus membros passaram para a glória, alguns nem nasceram ainda e aqueles que vivem hoje na Terra estão dispersos pelos quatro ventos. Essa assembléia ocorrerá em algum ponto do futuro, depois do tempo como o conhecemos, haver cessado. Essa reunião, embora mencionada em vários hinos, por todas as informações que temos, não ocorrerá neste mundo.
4. A igreja universal não tem organização externa à Terra. Não existe evidência bíblica de que os seguidores de Cristo, após a dispersão da igreja original de Jerusalém, alguma vez atuaram juntos como uma sociedade externamente organizada. Então, no sentido de ter organização terrena, humana, ela é invisível.
A igreja universal pode ser comparada aos nomes listados num catálogo telefônico. Eles têm uma coisa em comum: telefones. Eles são os “Quem é Quem” no mundo da discagem, embora essas pessoas listadas não atuem conjuntamente de nenhuma maneira organizada. Assim é com a igreja universal na Terra. Cada crente está relacionado no Livro da Vida do Cordeiro, cada um deles tem a Cristo, embora não sejam organizados conjuntamente de nenhuma maneira terrena.
5. O aglutinante da igreja universal é o cimento de seu amor interno. Esse amor sobrenatural tem expressão prática: Paulo carregou o fardo pelas necessidades da igreja local de Jerusalém e tirou uma oferta através de todo o mundo romano para assisti-la. Se uma parte do corpo sofre, todo o corpo sofre. Nós sentimos os desumanos maus tratos aos nossos irmãos e irmãs chineses porque eles estão na mesma família que nós – estamos na mesma igreja. Romanos 12:5 nos relembra que “Somos um só corpo em Cristo, e individualmente uns dos outros”. A primeira carta aos Coríntios revela que cada um é parte do corpo de Cristo e que “Se um membro padece, todos os membros padecem com ele” (12:26-27).
6. A igreja universal tem reconhecíveis ministros sobrenaturalmente dotados. Efésios 4:11-12 diz que Cristo “deu uns como apóstolos, outros como profetas, outros como evangelistas e outros como pastores e mestres, querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo”. Essas pessoas com dons podem certamente ser encontradas como membros das igrejas locais organizadas, mas seus dons são do Espírito Santo e seus chamados frequentemente são para a igreja universal, não necessariamente para apenas uma igreja local. Esses homens ministram localmente, porém quase sempre têm responsabilidade global. Os exemplos incluem Paulo, Barnabé e Apolo. Como disse John Wesley: “Eu olho para o mundo todo como minha paróquia” (1). Esses ministros pensam globalmente e atuam localmente!
Em suma, a igreja universal é o único grupo dos que são salvos por Cristo. Ela é o coletivo de todos os redimidos, a perfeita moradia da fé. A igreja universal é composta pelos cidadãos da Nova Jerusalém. A existência da igreja universal é expressa verdadeiramente no Credo de Nicena: “Creio na igreja, una, santa, católica (universal) e apostólica”.
II – MUITAS IGREJAS LOCAIS
Ainda que ensinando claramente que existe apenas uma igreja universal, o Novo Testamento também se refere a múltiplas igrejas em várias regiões (Gálatas 1:2 e Apocalipse 1:4) ou a igrejas distintas em diferentes cidades (Atos 13:1 e 1 Tessalonicenses 1:1). Se existem grupos de crentes se reunindo em dois diferentes locais, a Bíblia se refere a eles como duas igrejas separadas. Isso nos leva a outro uso da palavra igreja, a igreja local. Ela é um subconjunto da igreja universal.
Jesus disse que, se algum irmão é pego em pecado e se recusa a se arrepender, um dos passos do processo de restauração é “dize-lo à igreja” (Mateus 18:17). Aqui, era à igreja local que Jesus se referia. É a igreja local que tem autoridade para expulsar membros pecadores, conduzir as assembléias regulares, ter anciãos reconhecidos e ser organizada. Nada disso é verdade com relação à igreja universal.
Donald Guthrie escreveu que “a idéia inicial de igreja era a de uma comunidade de crentes se reunindo juntos em um local determinado… a idéia de comunidade no Novo Testamento não pode ser enfatizada em demasia” (2). De acordo com o Novo Dicionário Bíblico, “uma igreja era uma reunião ou assembléia… igreja não era sinônimo de ‘povo de Deus’, mas uma atividade do ‘povo de Deus’” (3). Similarmente, alguém uma vez disse, como brincadeira, que pássaros voam, peixes nadam e igrejas se reúnem. A idéia é: “se não se reúne, não é uma igreja local”!
Mas, qual é a mais correta expressão da igreja local? É a igreja domiciliar ou a igreja da cidade?
1. A igreja local da cidade toda. Algumas pessoas sustentam que a expressão correta da igreja local é a igreja da cidade, organizada, constituída de várias igrejas domiciliares unidas e que se reúnem em conjunto, corporativamente. Os defensores da igreja da cidade argumentam que, por direito, existe apenas uma igreja organizada, por cidade. Além disso, defendem que essa única igreja da cidade deve manter reuniões regulares para que todos dessa localidade as freqüentem. Finalmente, algumas auto-designadas “igrejas” domiciliares são mais como grupos de louvor ou células semi-autônomas, todas submissas à igreja mãe (igreja da cidade), Na prática, isso não é diferente de uma grande Igreja Batista que tenha seus membros divididos em classes de escola dominical. No esquema ideal da igreja da cidade, nenhum subgrupo, de qualquer cidade, deve ser autônomo – nenhuma igreja domiciliar, nenhuma Igreja Batista ou Presbiteriana ou assembléia pentecostal. Todas devem estar supostamente unificadas sob o grande e organizado guarda-chuva da igreja da cidade. As reuniões da igreja da cidade são apresentadas como sendo a oportunidade e o local para os cultos interativos de 1 Coríntios 14 – e não as igrejas domiciliares. As reuniões da igreja da cidade são o local adequado para a celebração da Ceia do Senhor. Apenas a igreja da cidade deve ter a autoridade para disciplinar a um irmão ou irmã. Se a teoria da igreja da cidade, organizada, for correta, ela deixará a “igreja” domiciliar absolutamente sem determinação escriturística sobre o que ela deveria fazer quando reunida ou mesmo para que ela deveria existir.
No que alguns baseiam suas crenças na igreja da cidade, organizada? Uma base para o modelo da igreja da cidade são aquelas situações no Novo Testamento nas quais apenas uma igreja é mencionada em uma dada cidade. Por exemplo, Apocalipse 1:4 se refere a “igrejas” (no plural) na província da Ásia e depois passa a mencionar, no singular, a cada igreja em sete das cidades daquela província (2:1, 2:8, 2:12, 2:18, etc.). Adicionando combustível à questão da igreja de toda a cidade, existe o fato de que o Novo Testamento nunca se refere especificamente a “igrejas” (no plural) dentro da mesma cidade. A situação de Corinto pode ser apresentada como o principal exemplo de modelo de igreja da cidade.
O CASO DE CORINTO
a. Saudação. A saudação encontrada em 1 Coríntios 1:2 menciona “a igreja de Deus que está em Corinto”. Essa saudação sugere que havia apenas uma igreja em Corinto, não várias igrejas. A teoria da igreja da cidade sustenta que havia apenas uma igreja em cada cidade e que esta era uma entidade organizada com seu próprio governo, sua liderança e suas reuniões.
b. A disciplina da igreja. Em 1 Coríntios 5:4-5, Paulo está às voltas com o irmão imoral que precisa de disciplina. Ele escreveu: “Em nome de nosso Senhor Jesus, congregados vós e o meu espírito, pelo poder de nosso Senhor Jesus, seja entregue a Satanás para destruição da carne, para que o espírito seja salvo no dia do Senhor Jesus”. Paulo escreve claramente como se houvesse uma assembléia de toda a igreja em Corinto, com todos os crentes juntos no mesmo lugar.
c. A Ceia do Senhor. A primeira carta aos Coríntios, no capítulo 11, do verso 20 em diante, revela que havia abusos durante a Ceia do Senhor em Corinto. Os ricos declaradamente preferiam não comer com os pobres, escolhendo chegar mais cedo ao local da reunião. Quando os pobres finalmente chegavam, talvez depois do trabalho, os ricos já haviam almoçado e nenhum alimento havia sobrado. Esse abuso não poderia não ter ocorrido se todos, ricos e pobres, não freqüentassem a mesma igreja, reunindo-se no mesmo local. Em Corinto, eles claramente não se reuniam em locais diferentes, para a Ceia do Senhor. Os ricos evitavam os pobres comendo em tempo diferente deles, não em local diferente.
d. A reunião interativa. Da realização de reuniões interativas deduzem-se reuniões de igrejas da cidade. Por exemplo, 1 Coríntios 14:23 determina que: “Se, pois, toda a igreja se reunir num mesmo lugar e todos falarem em línguas e entrarem indoutos ou incrédulos, não dirão porventura que estais loucos”?
e. Anciãos da cidade. Defensores da igreja da cidade sentem que essa igreja, como um todo, deve ter anciãos, não necessariamente cada igreja domiciliar. Aliás, como pode a típica igreja domiciliar, realisticamente, produzir múltiplos anciãos? Indo além do exemplo dos coríntios, os defensores da igreja da cidade podem citar Tito 1:5: “Por esta causa te deixei em Creta, para que pusesses em boa ordem o que ainda não o está, e que em cada cidade estabelecesses anciãos, como já te mandei”. Eles vêem nisso a sugestão para um presbitério de anciãos de igreja da cidade e não de anciãos de igrejas domiciliares. Alguns se referem também à instituição de um bispo dirigente e de pais apostólicos para orientar a igreja da cidade.
2. A igreja doméstica local. Outros argumentam que a igreja domiciliar organizada é a expressão correta da igreja doméstica bíblica e não a igreja de toda a cidade. Temos, de um lado, a igreja universal e, de outro lado, a igreja domiciliar local. Temos, em suma, a macro igreja e a micro igreja, mas não temos a igreja metropolitana.
Como podem os vários escritos sobre a igreja domiciliar ser conciliados para defender os textos sobre as igrejas domiciliares? Possivelmente, quaisquer ocorrências da palavra igreja, fora as referências à igreja universal, dizem respeito a um grupo de crentes que realmente fizeram todo o possível para se reunirem em conjunto em um lugar para assembléias regulares da igreja. Certamente no início das atividades numa nova cidade poderia haver apenas um lugar de reuniões, porém, quando o número de crentes crescesse, haveria mais locais de reunião e consequentemente, o número de igrejas nessa cidade aumentaria. Não era intenção de que houvesse apenas um local de reunião por cidade, eternamente.
Em outras palavras, se os escritores do Novo Testamento escreveram sobre a igreja (no singular) numa cidade em particular, isso foi simplesmente em razão de haver apenas um local de assembléia, numa dada cidade, ao tempo da ocorrência descrita. De acordo com Mark Galli, o editor da revista História Cristã, “no ano 100 da Era Cristão, os cristãos eram cerca de 7.000, apenas 0,0034% do Império Romano” (4). Não é surpresa que houvesse apenas uma congregação por cidade, naqueles dias. Ainda que tardiamente, era de se esperar que cada igreja original, eventualmente, se multiplicasse em igrejas organizadas nessas cidades, ao invés de permanecer apenas como uma igreja domiciliar.
Qual era o tamanho da igreja de Corinto? Independente de seu tamanho, é evidente que todos seus membros podiam se reunir ao mesmo tempo em um local, para participarem de um culto interativo, da Ceia do Senhor em conjunto e, corporativamente, praticarem a disciplina da igreja. Todavia, ainda era apenas uma igreja domiciliar. Em sua carta aos romanos, escrita de Corinto, Paulo escreveu: “Saúda-vos Gaio, hospedeiro meu e de toda a igreja” (Romanos 16:23). Aparentemente, havia lá uma grande igreja domiciliar. Contudo, a casa de que Gaio era capaz de hospedar a igreja inteira de Corinto.
Qual é a evidência de que igreja domiciliar é a expressão correta da igreja local? É fato que, apenas talvez à exceção da reunião ocorrida no pórtico de Salomão, o Novo Testamento claramente evidencia que todas as vezes que a igreja se reunia regularmente, isso ocorria numa residência particular. Quando olhamos para a história da igreja, vemos que os primitivos cristãos continuaram a se reunir em domicílios pelos 200 anos seguintes à ascensão do Senhor. Onde se reuniu a suposta igreja da cidade se, por séculos, o local para as assembléias da igreja foi a sala de alguém?
G.F. Snyder, em A Vida da Igreja Antes de Constantino, escreveu que “a igreja do Novo Testamento começou como um o pequeno grupo de uma igreja domiciliar… e assim permaneceu até a metade ou o fim do terceiro século. Não existem evidências de grandes locais de reunião antes do ano 300” (5). As antigas igrejas domiciliares cresceram e, ao invés de procurarem locais mais amplos para suas reuniões, elas criaram novas igrejas na mesma cidade. Esse fato parece ser estranho à teoria das igrejas da cidade como entidades organizadas. Essas igrejas domiciliares referidas no Novo Testamento aparecem como genuínas e verdadeiras igrejas e não meramente grupos em células nem simples grupos domiciliares de comunhão.
Aqueles que defendem a igreja da cidade sustentam que essas igrejas idealmente deveriam se dividir por causa das distâncias, definidas pelos limites geográficos da cidade. Os que sustentam que as igrejas domiciliares são o modelo correto para a igreja local reconhecem a divisão geográfica como verdadeira, em princípio, mas vêem os limites da cidade como os limites errados. Eles advogam um diferente fator de separação: as fronteiras de uma toca, do espaço do piso da sala, da geografia no senso de metro quadrado ao invés de quilômetro quadrado. Se todos os crentes não podem mais se reunir numa mesma casa, então é hora de começar uma nova igreja. O tamanho médio da sala é o limite. Como são essas referências a igrejas domiciliares relacionadas às ocasionais determinações bíblicas sobre a igreja (no singular) na cidade? É realmente possível que a Bíblia fale de “igreja” numa determinada cidade por haver apenas uma assembléia nessa cidade, nessa época? Se havia várias congregações, não seriam mais apropriadas as referências às igrejas dessa cidade, do que à igreja dessa cidade? Considere o caso de Roma.
O CASO DE ROMA
Muitas das epístolas do Novo Testamento não contêm saudação “à igreja” em certa cidade. Ao saudar aos crentes em Roma, por exemplo, Paulo escreveu “a todos os que estais em Roma, amados de Deus, chamados para serdes santos” (Romanos 1:7). Ele não saudou à “igreja” em Roma. De fato, o Novo Testamento jamais se refere à “igreja” em Roma. Poderia isso ocorrer por haver mais de uma congregação em Roma?
Áquila e Priscila (ou Prisca) era um casal de judeus vivendo em Roma. Paulo não havia estado em Roma quando escreveu essa carta aos irmãos daquela cidade, mas ele conhecia o casal desde quando este vivia em Corinto e em Éfeso. Então, Paulo os saúda quando escreve aos santos de Roma. Ele escreve: “Saudai a Prisca e a Áqüila, meus cooperadores em Cristo Jesus… saudai também à igreja que está na casa deles”. (Romanos 16:3 e 5). Qual é a diferença entre “todos os… chamados para ser santos”, de Romanos 1:7 e “a igreja que está na casa deles”, de Romanos 16:3 e 5? A igreja que se reunia na casa de Priscila e Áquila foi especialmente particularizada na saudação, por ser uma igreja separada, um subgrupo de “todos os santos em Roma”. Paulo não precisaria especificar a qual igreja ele estava saudando, a menos que houvesse mais de uma igreja em Roma. “Saudai também a igreja que está na casadeles” é o oposto às igrejas nas casas de outras pessoas em Roma.
Evidentemente havia um considerável número de crentes em Roma, muito mais do que em Corinto e eles se reuniam em mais de um local no Dia do Senhor. Por exemplo, em Romanos 16:14 há uma saudação “a Asíncrito, a Flegonte, a Hermes, a Pátrobas, a Hermes e aos irmãos que estão com eles”. Quem eram os irmãos que estavam “com eles”? Certamente o restante de uma igreja que se reunia com eles.
Considerando também Romanos 16:15, vemos ali uma saudação “a Filólogo, a Júlia, a Nereu e sua irmã, a Olimpas e a todos os santos que com eles estão”. Quem eram esses santos? Tudo sugere que eram parte de ainda outra igreja em Roma, distinta daquela que se reunia com Asíncrito e outros e da que havia na casa de Priscila e Áquila.
Pode-se corretamente imaginar que havia, no mínimo, três diferentes locais de reunião em Roma, constituindo três igrejas separadas. Certamente Paulo saudou, tratando pelos nomes, somente àqueles que ele já conhecia. É possível que existissem muitas outras igrejas funcionando em Roma, com as quais Paulo não tivesse mantido relação pessoal mais estreita, quando escreveu a carta mencionada.
O EXEMPLO DE JERUSALÉM:
METROPOLITANA OU MICRO?
Apliquemos agora tudo isso à igreja de Jerusalém. A igreja de Jerusalém é um dos poucos exemplos no qual a Bíblia se refere a apenas uma igreja numa idade (Atos 8:1). Provavelmente isso se deve a que, ali, todos os crentes se reuniam em apenas um lugar. A igreja em Jerusalém, certamente, era uma entidade organizada singular. Por exemplo, Atos 2:1 registra que “estavam todos reunidos num mesmo lugar”.
Diferente de Corinto, a igreja de Jerusalém não era uma igreja domiciliar mesmo, apesar de comerem juntos em várias residências (Atos 2:46). No Pentecoste, cerca de três mil pessoas juntaram-se aos originais cento e vinte crentes (Atos 1:15). Então, Atos 4:4 nos conta que “muitos, porém, dos que ouviram a palavra, creram, e se elevou o número dos homens a quase cinco mil”. Além do mais, Lucas nos informa que “divulgava-se a palavra de Deus, de sorte que se multiplicava muito o número dos discípulos em Jerusalém e muitos sacerdotes obedeciam à fé“ (Atos 6:7). A igreja de Jerusalém era uma grande igreja, mesmo pelos padrões de hoje. Ela era uma mega igreja!
Onde essas pessoas se reuniam juntas? Atos 5:12 nos dá a resposta: “e estavam todos de comum acordo no pórtico de Salomão”. O pórtico de Salomão era uma enorme área de reunião, tendo um teto suportado por colunas a intervalos regulares, com as laterais abertas. Isso acontecia antes da perseguição que depois veio sobre a igreja de Jerusalém e prejudicou essas reuniões amplas.
Devemos seguir o exemplo hoje em nossas igrejas? (Se sim, isso poderia se comparar ao conceito de igreja domiciliar). A resposta é sim e não. Sob circunstâncias idênticas, sim. Porém, aquelas circunstâncias eram únicas e não típicas de nossos dias. Prática, normal e efetivamente, não vivemos circunstâncias idênticas! Muito frequentemente, a igreja moderna tem deixado essa exceção se tornar a regra. Essa situação de Jerusalém foi particular, por várias razões:
Primeiro, a igreja de Jerusalém foi a primeira e estava em sua infância. Ela estava no estágio de incubação. Como o estudioso Harvey Bluedorn apontou, “havia muita coisa a desenvolver. Aquele era um projeto de construção inteiramente novo e precisamos ter cuidado para não confundirmos os andaimes e o material de construção com o edifício em si” (6).
Segundo, a igreja de Jerusalém era composta apenas de judeus convertidos há pouco tempo. Dessa forma, eles mantinham um profundo apego às coisas do Velho Pacto, incluindo o louvor no templo. Citando Bluedorn novamente, vemos que “a igreja de Jerusalém era composta apenas de judeus circuncidados que haviam vivido toda a vida sob a Lei e em torno do templo. Eles eram culturalmente comprometidos a um estilo de vida sob uma lei administrativa que, jurisdicionalmente abrangia toda a existência. Eles precisavam começar a efetuar a transição da imatura cultura da conformação externa do Velho Pacto e, ao mesmo tempo, assumir a madura cultura da transformação interna do Novo Pacto. Eles eram, em muitos dos casos, padres convertidos, ainda ciumentamente apegados à Lei, por isso fracos de consciência e, em razão disso, fracos na maturidade do evangelho. Muitas das acomodações culturais feitas em Jerusalém, nem sequer devemos considerar hoje” (7).
Terceiro, a igreja de Jerusalém foi repentinamente confrontada com um imenso número de novos convertidos. Milhares deles. Muitos dos convertidos eram peregrinos religiosos, visitantes temporários, que haviam viajado àquela cidade para observar a Páscoa e o Pentecoste. Josefo registrou que a população da cidade podia aumentar em várias vezes seu tamanho normal, em épocas especiais. Lucas disse sobre isso que: “habitavam então em Jerusalém judeus, homens piedosos, de todas as nações que há debaixo do céu… partos, medos, elamitas e os que habitam a Mesopotâmia, a Judéia e a Capadócia, o Ponto e a Ásia, a Frígia e a Panfília, o Egito e as partes da Líbia próximas a Cirene, e forasteiros romanos, tanto judeus como prosélitos, cretenses e árabes” (Atos 25-11). Eventualmente, esses novos convertidos precisavam retornar aos seus lares. Nesse ínterim, entretanto, esse grande número de pessoas tinha que ser discipulado, instruído e firmado na fé. Como poderia alguém trabalhar com três mil judeus de várias nações, subitamente convertidos em Jerusalém (Atos 2:5-11, 41) e, não muito tempo depois, com muitos milhares de crentes locais? (Atos 4:4). Existiam apenas doze apóstolos treinados e disponíveis!
No sentido de treinar rapidamente esses muitos convertidos, a igreja tinha que realizar grandes reuniões. Assim, “perseveravam na doutrina dos apóstolos” (Atos 2:42) e se reuniam diariamente no templo (Atos 2:46). Esse era o tempo das voluntárias práticas comunais da propriedade (Atos 4:32-35), uma resposta única às específicas necessidades do treinamento, naquela ocasião. Esse comportamento não foi reproduzido em outras igrejas que surgiram depois. O padrão é as micro igrejas (e não mega igrejas) e a propriedade privada (e não a posse coletiva da propriedade).
Imagine só: milhares de novos crentes sem literalmente nenhum lugar para serem treinados, exceto exatamente em Jerusalém. O tempo disponível para esse treinamento se escoando rápido. Eventualmente, eles teriam que voltar para suas cidades. Situações extraordinárias exigiam ações também extraordinárias: reuniões de massa e práticas comunais quanto à propriedade. Se todos os mórmons, em Salt Lake City (sede da igreja deles, nos Estados Unidos) subitamente se convertessem e adotassem a verdadeira e salvadora fé no Senhor Jesus, essa também seria uma situação única a exigir uma resposta extraordinária de parte da igreja verdadeira.
Essas grandes assembléias no pórtico do templo não duraram muito, pois, não só os peregrinos eventualmente voltaram para suas terras, como também os residentes na cidade foram obrigados a abandonar aquele local de reunião. Lucas registra que “levantou-se grande perseguição contra a igreja que estava em Jerusalém e todos, exceto os apóstolos, foram dispersos pelas regiões da Judéia e da Samária” (Atos 8:1).
Anos depois, o que restara da igreja de Jerusalém ainda realizou outra reunião plenária. Em Atos 15 está registrada a realização do Consílio de Jerusalém: “Então toda a multidão se calou e escutava a Barnabé e a Paulo, que contavam quantos sinais e prodígios Deus havia feito por meio deles entre os gentios” (Atos 15:12). Lucas registrou que “Então pareceu bem aos apóstolos e aos anciãos com toda a igreja escolher…” (Atos 15:22). Essa era uma igreja grandemente diminuída, não os milhares de pessoas de antes.
(Como uma nota paralela, quero dizer que o Concílio de Jerusalém foi também um razoavelmente único evento no qual a própria natureza da mensagem do evangelho esta sendo decidida. O assunto era: “É a fé em Jesus suficiente ou as pessoas precisam também ser circuncidadas”? Os apóstolos originais estavam ainda em Jerusalém e eles eram o padrão, a norma para a doutrina. Esse falso evangelho da circuncisão precisava ser condenado e o verdadeiro devia ser definido e defendido. Os doze eram os homens que deveriam fazer isso. Eles haviam sido selecionados e treinados por Jesus para representá-Lo na Terra, de uma maneira tão especial como ninguém jamais havia sido qualificado antes. Não era o caso de a igreja de Jerusalém ter autoridade sobre as outras igrejas. Na verdade, dos apóstolos em conjunção com a igreja de Jerusalém, emergiu uma carta com muita autoridade, condenando a exigência da circuncisão).
A IGREJA DA JUDÉIA, DA GALILÉIA E DA SAMARIA?
O padrão bíblico normal é referir-se a igrejas (no plural) numa região (Atos 15:41, 1 Coríntios 16:1, 2 Coríntios 8:1, Gálatas 1:2). Porém, em Atos 9:1 da versão Revista e Corrigida de João Ferreira de Almeida, lemos que “… as igrejas em toda a Judéia e Galiléia e Samaria tinham paz…”, enquanto que na versão Revista e Atualizada no Brasil, do mesmo tradutor, está escrito que “A igreja, na verdade, tinha paz por toda a Judéia, Galiléia e Samaria…” Qual é a leitura correta, igreja ou igrejas?
Textos gregos subentendidos explicam a diferença. Se “igreja”, no singular, é a leitura correta, então esta pode se a única referência em toda a Bíblia à igreja regional. Ainda mais: se esta for a interpretação certa, ela possivelmente foi usada especificamente com referência à dispersa igreja oriunda de Jerusalém. A igreja de Jerusalém foi única em todo o mundo. Essa igreja original foi tão intensamente perseguida que “todos, exceto os apóstolos, foram dispersos” (Atos 8:1). Para onde foi a igreja? Para a Judéia e a Samaria (Atos 8:1). Então, “a igreja” da Judéia, Galiléia e Samaria (9:31) provavelmente se refere à igreja dispersa de Jerusalém. Evidência posterior à menção de 9:31, referente à igreja dispersa de Jerusalém, é encontrada em Gálatas 1:22. Escrita anos depois da igreja de Jerusalém haver sido dispersa, Gálatas 1:22 retorna ao uso normal da expressão e refere-se a “igrejas” (no plural) da Judéia. Isso sugere que igrejas locais e mais novas surgiram na Judéia durante os anos seguintes à dispersão. Os refugiados de Jerusalém iniciaram novas igrejas nas áreas para as quais fugiram.
É também possível que Lucas se refira a todos os crentes nessas regiões, abstratamente. De forma similar, podemos dizer hoje que “a igreja da China é perseguida”. Não existe na China uma igreja organizada, da qual todos os crentes façam parte – essa afirmação é uma realidade abstrata. Ambas as igrejas – da China e da Judéia – são frações abstratas de uma igreja universal. A Bíblia não se refere a uma igreja regional organizada, muito menos a uma igreja universal organizada. Existem exemplos de igrejas (no plural) locais organizadas numa região (como em Gálatas 1:2), porém não há notícia de alguma igreja regional organizada. Não existe base bíblica para termos uma igreja cuja organização terrestre ou cuja autoridade se estendam além de sua congregação local. Não existe base bíblica para uma igreja global (como a Igreja Católica Romana declara haver). Não existe também base para uma igreja organizada regional (como a Igreja da Escócia, a Igreja da Inglaterra ou a Igreja Russa Ortodoxa).
Dessa forma, a diferença nos manuscritos gregos referentes a Atos 9:31 poderá permitir que se considere uma alternativa para uma visão da igreja da cidade, qual seja a de uma igreja abstrata em cada cidade, composta de várias igrejas domiciliares locais organizadas. Admitindo-se que cada igreja domiciliar seja a correta expressão da igreja local, os crentes poderiam ainda se ver como parte de uma igreja maior em sua cidade. A igreja da cidade poderia existir em suas mentes, como uma abstrata realidade, porém sem uma intencional organização terrena e sem autoridade. Nossa atitude poderia ser a de que existiria uma igreja por cidade e que fôssemos parte dela. Isso, ainda que a unidade de organização correta seja a igreja domiciliar e não a igreja da cidade.
Em suma, a igreja universal é uma realidade abstrata. A igreja regional idem, assim como a igreja da cidade. Nenhuma das três tem um projeto bíblico de organização, de cultos ou de autoridade. Aplicar, na prática, a crença numa igreja da cidade abstrata representa cooperar com outras igrejas verdadeiras em co-participações, como benemerência, oração ou evangelização – assim como Paulo recolheu as ofertas da igreja universal para ajudar à igreja de Jerusalém. Uma igreja da cidade abstrata significa estarmos unidos pelos laços do amor a todos os outros crentes da nossa cidade. Igreja da cidade abstrata quer dizer aceitar a todos os crentes de sua cidade, independente deles serem batistas, metodistas, presbiterianos ou pertencerem a quaisquer outras denominações. Isso também permite aos anciãos de cada cidade cooperar numa gama extensa de ministérios.
CONSIDERAÇÕES SOBRE AS IGREJAS DA CIDADE
1. Como poderia a igreja de uma grande cidade realizar uma sessão plenária? Existem mais pessoas só em Londres do que em muitos países europeus. Existem crentes em Londres desde o tempo dos romanos e o número de cristãos agora é enorme. Até Watchman Nee, ávido pregador da igreja da cidade, admite que cidades como Londres precise ser fragmentada em unidades assim como burgos ou como igrejas por código postal. Ainda que a igreja da cidade fosse a norma das Escrituras, que autoridade teríamos para adulterar isso e fragmentar Londres em pequenas unidades?
2. Já se passaram mais de dois mil anos desde que o Novo Testamento foi escrito. Muitas das antigas igrejas deixaram de ser igrejas e se tornaram sinagogas de Satanás. Outras igrejas estão repletas de membros não convertidos, chamados de irmãos e que vivem em aberto e explícito pecado e que, ainda assim, são mantidos na comunhão com os santos. Algumas congregações têm pastores homossexuais. Outras, têm anciãos que negam a Trindade, o nascimento virginal ou o sacrifício propiciatório de Cristo na cruz. Devemos nos unir a esses autodenominados irmãos, num esforço para termos uma igreja da cidade? Não há dúvida de que os defensores da igreja da cidade dirão que apenas crentes verdadeiros deverão estar envolvidos nesse tipo de igreja. Porém, quem aplicará essa determinação? O potencial para discussões, ressentimentos e divisões é bem grande. Um grupo de crentes em Atlanta (cidade do autor, no Estado da Geórgia, EUA) que sustenta a idéia de igreja da cidade construiu um grande edifício com um letreiro enorme que apregoa que “A Igreja de Atlanta se Reúne Aqui”. Quão arrogante e sectário deve parecer esse letreiro aos milhares de outros crentes da cidade que não se reúnem ali para o culto nos domingos!
Ironicamente, os defensores da igreja da cidade enfrentam o mesmo tipo de problemas que enfrentaram os Reformadores: separar os crentes verdadeiros dos descrentes, em igrejas patrocinadas pelo estado. Eles surgiram como a Ecclesiola in Ecclesia, a pequena igreja do trigo dentro da grande igreja do joio. A história demonstra que tais tentativas de reformas “para dentro” raramente têm sucesso (8).
3. Numa simples e grande igreja de cidade, como pode o povo de Deus ser protegido contra super-stars, lobos em pele de cordeiros ou falsas doutrinas? Embora igrejas de quaisquer tamanhos possam enfrentar esses problemas, no cenário das igrejas da cidade provavelmente o fim seria o surgimento de problemas similares aos que ocorreram na Igreja Católica Romana. Quando o telhado é danificado, toda a estrutura abaixo também se arruína. Com as descentralizadas igrejas domiciliares, quando uma vai mal, as outras estão mais isoladas do erro.
4. Há, ainda, alguns que abusam da idéia da igreja da cidade para mudarem de igreja domiciliar para igreja domiciliar, domingo a domingo, como ciganos espirituais, sem se ligar a nenhuma delas. Considerando-se como membros da igreja em geral, eles não têm que se defrontar com as realidades do cotidiano “uns aos outros”, com o mesmo grupo de crentes todas as semanas. Outros, criativamente, se voltaram para o conceito de igreja da cidade como uma escusa para fazer o que querem. Para esses, igreja da cidade é, essencialmente, igreja sem definição.
5. Os cultos devem ser centrados na Ceia do Senhor com uma refeição completa, seguida da reunião interativa. Uma das coisas que as famílias fazem é comer em conjunto. Igreja deve ser como uma família e todos devem fazer a refeição juntos. Isso é muito melhor realizado num cenário do estilo domiciliar, com um número pequeno de pessoas, apenas quantos você possa realmente conhecer e com os quais possa efetivamente manter comunhão. Se muitas pessoas estiverem presentes, a intimidade é perdida.
Quando ainda no seminário, eu fiz parte de uma equipe de tempo parcial de uma igreja de mais de catorze mil membros. Nós tínhamos ceias às quartas-feiras no prédio da igreja, usando fileiras e fileiras de mesas. Apesar do fato de que eu era da equipe, eu não conhecia noventa por cento do pessoal ali presente! A ceia de comunhão era muito mais como ir a um restaurante. Ela era profundamente impessoal e institucional. Como pode a celebração da Ceia do Senhor de uma igreja da cidade ser diferente?
6. Outro ingrediente do culto do Dia do Senhor é a reunião participativa (1 Coríntios 14), que se supõe não deva ser um “show de um homem só” ou algo como um “serviço” a cargo de apenas alguns. Assembléias pequenas são mais adequadas ao estilo de preleção. Se, em verdade, a cada irmão for permitido falar nas reuniões (1 Coríntios 14:23), necessariamente teríamos que ter um grupo menor, ao invés de um maior. Se todas as semanas você vai ao culto desejando compartilhar alguma coisa que crê que o Senhor quer que seja repartido com a igreja e, semana após semana, você volta para casa sem se manifestar, por haver muitas pessoas a testemunhar, sua assembléia deve estar ficando muito grande. Como pode uma igreja da cidade, na realidade, manter cultos de 1 Coríntios 14, com centenas ou talvez milhares de pessoas presentes?
7. Tiago 5:16 nos instrui: “Confessai, portanto, os vossos pecados uns aos outros, e orai uns pelos outros…”. Gálatas 6:1-2 determina que “se um homem chegar a ser surpreendido em algum delito, vós que sois espirituais, corrigi o tal com espírito de mansidão; e olha por ti mesmo, para que também tu não sejas tentado. Levai as cargas uns dos outros, e assim cumprireis a lei de Cristo”. Havia intimidade na igreja primitiva e eles mantinham responsabilidades uns para com os outros através desse relacionamento. Numa igreja enorme, você pode facilmente ficar perdido na multidão. Se você não estiver lá, ninguém vai dar pela sua falta. Sua contribuição à igreja será como um litro a mais de água fluindo sob a ponte de Londres. Se você estiver em pecado, poderá facilmente continuar assim, pois ninguém saberá o que se passa na sua vida – a igreja é acentuadamente impessoal. Jesus nos ensinou claramente que devemos ser companhia de pessoas que pratiquem santidade e obediência. O processo que Jesus ressaltou para tratarmos com o desobediente está em Mateus 18. Esse processo funciona bem num grupo pequeno, no qual todos se conheçam bem (como as igrejas domiciliares), mas é altamente impraticável quando uma igreja local aumenta de tamanho (como as igrejas da cidade).
8. O Novo Testamento está repleto de determinações “uns aos outros”, todas elas pressupondo relações íntimas: “sejam devotados uns aos outros, amem uns aos outros, dêem preferência uns aos outros em honra, tenham o mesmo pensamento uns para com os outros, amem uns aos outros, aceitem uns aos outros, aconselhem uns aos outros, cuidem uns dos outros, sirvam uns aos outros, suportem as cargas uns dos outros, suportem uns aos outros em amor, submetam-se uns aos outros em reverência a Cristo, confortem uns aos outros, sejam gentis uns com os outros, encorajem uns aos outros diariamente, estimulem uns aos outros a amar e a praticar boas obras” (Romanos 12:10, 12:16, 13:8, 15:7 e 15:14, 1 Coríntios 12:15, Gálatas 5:13, Efésios 4:2, 4:32 e 5:21, 1 Timóteo 4:18, Hebreus 3:13 e 10:24). O melhor local para isso é a igreja domiciliar, não a igreja da cidade.
9. Se os apóstolos claramente ensinaram ou padronizaram algo, não devemos contestar o que devemos fazer a respeito. Se os apóstolos não foram definitivos sobre algo, então aquilo é livre. O perigo da igreja da cidade reside em tornar obrigatória uma estrutura artificial sobre a qual nada se conhece no Novo Testamento.
SUMÁRIO
A igreja da cidade é, mais do que tudo, um aspecto abstrato da igreja universal. A expressão apropriada da igreja organizada local é igreja domiciliar e não igreja da cidade. Igreja da cidade é mais uma atitude do que uma entidade. A crença filosófica na igreja da cidade poderá resultar numa atitude de cooperação com outras igrejas na evangelização, benemerência, orações, louvor e treinamento, no amor por todos os crentes e no interesse nos irmãos fora de nossa própria comunhão. O pensamento da igreja da cidade nos ajuda a afastar divisões e a gerar unidade com outros crentes de nossa cidade.
Os que inicialmente adotaram as idéias deste livro irão naturalmente focalizar seu tempo e atenção em iniciar e manter sua primeira igreja domiciliar, ainda que nossas intenções não devam cessar depois que essa igreja inicial seja estabelecida com sucesso. Uma igreja domiciliar isolada, sozinha, pode se tornar estagnada no crescimento, monástica e anêmica. A verdade da existência da igreja universal significa que necessitamos realmente pensar globalmente e agir localmente. Correspondentemente, a aceitação filosófica da igreja da cidade determina que também devamos pensar em termos de metrópole, mas atuar localmente. A teoria da igreja da cidade, em termos finais, sugere que não nos devemos contentar com uma igreja domiciliar, mas centralizar nossas vistas numa cidade repleta de igrejas domiciliares, autônomas e cooperativas entre si.
Tradução de Otto Amaral
Se você fala português e deseja algum esclarecimento sobre a igreja apostólica ou sobre o artigo acima ou quer fazer algum comentário sobre o mesmo, entre em contato com Otto Amaral no Brasil, pelo e-mail: ottoamaral@uol.com.br
(*) Steve Atkerson e sua esposa Sandra vivem no norte da Geórgia (Estados Unidos), com seus três filhos, aos quais ministraram educação formal em casa. Steve formou-se na Georgia Tech e trabalhou em eletrônica industrial antes de ir para o seminário. Depois de graduado Mestre em Divindade pelo Mid America Baptist Theological Seminary, em Memphis, serviu por sete anos como pastor da Igreja Batista do Sul. Ele demitiu-se em 1990 para trabalhar com igrejas que desejavam seguir as tradições apostólicas em suas práticas. Ele viaja e ensina onde o Senhor abre as portas da oportunidade. Steve é também ancião na igreja domiciliar que ajudou a fundar em 1990, além de ser professor, palestrante itinerante e presidente da NTRF (Fundação para Restauração do Novo Testamento), autor dos livros The Practice of the Early Church: A Theological Workbook, do Equipping Manual e é editor e autor de artigos do livro Ekklesia: To the Roots of Biblical House Church Life.
Notas (Todas referentes ao original, em inglês)
- John Wesley, Journal of John Wesley (Chicago, IL: Moody Press, 1951).
- Donald Guthrie, New Testament Theology (Downers Grove, IL: Inter-Varsity Press, 1988), 788.
- D.W.B. Robinson, “Church,” New Bible Dictionary, J.D. Douglas, editor. 2nd ed., (Wheaton, IL: Tyndale House Publishers, 1982), 205.
- G. F. Snyder, in Church Life Before Constantine (Macon, GA: Mercer University Press, 1991), 166
- Mark Galli, “Adventures in Time Travel,” Discipleship Journal (Colorado Springs, CO: NavPress, Issue #106 July/August 1998).
- Harvey Bludorn, personal correspondence,
- Ibid.
- Martin Llyod Jones, “Approaches to the Reformation of the Church,” Puritan and Westminster Conference in 1965.